MHRA alerta para risco de gravidez inesperada com pílula e medicamentos como Ozempic e Wegovy

A Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA) emitiu um alerta inesperado em junho de 2025: mulheres que tomam pílula anticoncepcional ao mesmo tempo que medicamentos como Ozempic, Wegovy ou Mounjaro correm risco real de engravidar — mesmo usando contracepção. Foram confirmados 40 casos de gravidez não planejada. Nada de erro humano. Nada de esquecimento. O problema está na própria ciência do medicamento.

Como um remédio para perder peso pode fazer você engravidar?

Os medicamentos em questão — todos produzidos pela empresa dinamarquesa Novo Nordisk A/S — são baseados em semaglutido ou tirzepatida, substâncias que imitam o hormônio GLP-1. Eles funcionam como um freio natural no apetite: retardam o esvaziamento do estômago, fazem você se sentir cheia mais tempo e ajudam a controlar a glicose. Mas esse mesmo mecanismo, tão útil para quem luta contra a obesidade, está atrapalhando a absorção da pílula anticoncepcional.

A pílula precisa ser absorvida pelo intestino delgado para liberar hormônios que impedem a ovulação. Se o estômago demora mais para esvaziar, a pílula passa mais tempo no trato gastrointestinal — e parte dela pode ser expelida antes de ser totalmente absorvida. É como tentar beber um suco com um canudo que está entupido. Você bebe, mas não o suficiente.

Os números não mentem — e os relatos nas redes sociais já avisavam

Os 40 casos confirmados pela MHRA não surgiram do nada. Desde 2024, mulheres no Reino Unido, EUA e Brasil começaram a compartilhar histórias nas redes sociais: "Fiz tudo certo. Tomei a pílula todos os dias. E fiquei grávida." Elas chamaram isso de "bebés do Ozempic". O termo, inicialmente usado com ironia, virou um alerta coletivo. O Reino Unido foi o primeiro a agir formalmente.

O professor Simon Cork, da Universidade Anglia Ruskin em Cambridge, explica algo ainda mais profundo: "A obesidade reduz a fertilidade. Quando você perde peso rapidamente, o corpo reage como se voltasse ao estado fértil. É como se a pílula estivesse funcionando — mas o corpo já não precisa dela para evitar a gravidez."

Em outras palavras: a perda de peso em si aumenta a chance de ovulação. E se a pílula não está sendo absorvida direito? O risco se multiplica.

O que a MHRA recomenda — e o que ninguém está dizendo

A agência britânica não pediu para parar os medicamentos. Pelo contrário. Eles são essenciais para milhões com diabetes e obesidade. Mas fez duas recomendações claras:

  • Use preservativo como proteção adicional — não como alternativa, mas como complemento.
  • Continue usando proteção por dois meses após parar o medicamento. Porque os efeitos no sistema digestivo não desaparecem na hora.

Isso é crucial. Muitas mulheres acreditam que, quando param de tomar o Ozempic, tudo volta ao normal. Mas o corpo leva semanas para se readaptar. E nesse período, a absorção da pílula ainda pode estar comprometida.

Boa notícia: métodos como DIU, implantes e injeções contraceptivas não são afetados. Eles não dependem da absorção intestinal. Se você está tomando esses medicamentos, troque a pílula por um DIU — é mais eficaz, mais duradouro e não depende do seu estômago.

Quem está em risco — e quem não está

Quem está em risco — e quem não está

Não é só quem toma pílula. É quem acha que está protegida. Mulheres com histórico de obesidade, síndrome dos ovários policísticos ou resistência à insulina estão mais vulneráveis. Porque a perda de peso aciona um gatilho hormonal que o corpo já havia desligado.

Quem usa anticoncepcionais injetáveis — como a Depo-Provera — ou implantes subcutâneos, não precisa se preocupar. O mesmo vale para DIUs hormonais ou de cobre. Esses métodos funcionam localmente, sem passar pelo intestino. A MHRA confirmou isso.

E os homens? Não estão diretamente envolvidos — mas são parte da equação. Muitos desses casos envolvem casais que não planejavam gravidez. A falta de informação pode gerar choques emocionais, financeiros e até familiares. A conversa sobre contracepção precisa incluir os medicamentos que a mulher está tomando — e não só o que ela esqueceu.

O silêncio da Novo Nordisk e o que vem a seguir

Até agora, a Novo Nordisk A/S não emitiu um comunicado oficial sobre o alerta da MHRA. Isso é preocupante. A empresa vendeu bilhões em medicamentos como Wegovy e Ozempic — e agora, de repente, milhões de mulheres estão em risco de gravidez não planejada. Será que os rótulos dos medicamentos estão atualizados? Será que os médicos estão sendo informados?

Na Europa, a pressão para atualizar as bulas está aumentando. Nos EUA, a FDA já começou a revisar os dados. E no Brasil? A Anvisa ainda não comentou. Mas com mais de 2 milhões de brasileiros usando esses medicamentos, é só uma questão de tempo.

Um fato ainda mais sombrio: a segurança do Ozempic durante a gravidez é desconhecida. A Flourish Community Care, nos EUA, alerta para riscos potenciais ao feto — embora não detalhe quais. Isso significa: se você engravidar enquanto toma esses medicamentos, pare imediatamente e converse com seu médico. Não espere. Não tente "ver o que acontece".

Conclusão: proteção não é só pílula

Conclusão: proteção não é só pílula

A ciência não é inimiga da saúde. Mas a ignorância é. A MHRA fez o que deveria: alertou. Agora cabe a cada mulher, médico e farmácia agir. Não adianta mais achar que "tomei a pílula, então estou segura". A realidade mudou. E a proteção precisa mudar com ela.

Frequently Asked Questions

Quais métodos contraceptivos são seguros ao usar Ozempic ou Wegovy?

DIUs (hormonal ou de cobre), implantes subcutâneos e injeções contraceptivas como a Depo-Provera não são afetados pelo atraso no esvaziamento gástrico. Eles agem diretamente no útero ou na corrente sanguínea, sem depender da absorção intestinal. A MHRA confirmou que esses métodos mantêm sua eficácia mesmo com o uso de medicamentos de GLP-1.

Por que devo usar preservativo por dois meses após parar o medicamento?

Os efeitos farmacológicos do semaglutido e tirzepatida no sistema digestivo podem persistir por semanas após a última dose. Mesmo sem tomar o medicamento, o esvaziamento gástrico ainda pode estar lento, comprometendo a absorção da pílula. A MHRA recomenda esse prazo como medida de segurança, já que a fertilidade pode aumentar nesse período.

Existe risco para o bebê se eu engravidar enquanto tomo Ozempic?

Sim. Embora os dados sejam limitados, estudos preliminares sugerem que medicamentos como Ozempic podem atravessar a barreira placentária e afetar o desenvolvimento fetal. A Flourish Community Care e outros especialistas recomendam interromper imediatamente o uso ao confirmar a gravidez e buscar alternativas seguras sob supervisão médica.

A MHRA é a única agência que emitiu esse alerta?

Até junho de 2025, a MHRA foi a primeira e única a emitir um alerta formal. No entanto, a FDA nos EUA e a Anvisa no Brasil já estão analisando os dados. O fenômeno dos "bebés do Ozempic" está sendo discutido em reuniões internacionais de saúde, e novas orientações devem surgir nos próximos meses.

Por que só agora isso foi descoberto?

Esses medicamentos foram aprovados principalmente para diabetes e obesidade — não para contracepção. Os estudos clínicos iniciais não monitoraram gravidezes não planejadas como resultado secundário. Foi só com os relatos das próprias pacientes nas redes sociais que os médicos começaram a ligar os pontos — e a MHRA agiu.

O que devo fazer se estou tomando Ozempic e quero engravidar?

Se você planeja engravidar, pare o medicamento pelo menos três meses antes — e use métodos de contracepção não orais até então. Consulte seu ginecologista e endocrinologista para ajustar seu tratamento. A perda de peso rápida pode melhorar a fertilidade, mas o corpo precisa se estabilizar antes da concepção para reduzir riscos.

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