Bolsonaro indiciado por liderar plano golpista após eleições de 2022, aponta PF

A Polícia Federal entregou um relatório de 1.620 páginas que indiciou 37 pessoas por tentativa de golpe de estado após a derrota de Jair Messias Bolsonaro nas eleições de 2022. O documento, divulgado em 21 de novembro de 2024 e detalhado pela CNN Brasil na manhã de 27 de novembro, acusa o ex-presidente de ser o cérebro de um esquema organizado em seis núcleos, com plano concreto para derrubar a ordem democrática entre novembro e dezembro de 2022. O que se revelou não foi apenas uma conspiração de militares ou apoiadores — foi uma operação com minutas, reuniões secretas, pressão institucional e até discussões sobre assassinatos. E tudo, segundo a PF, com o conhecimento e a direção direta de Bolsonaro.

Um plano que começou em 2019

A investigação mostra que a semente do golpe foi plantada muito antes da derrota eleitoral. Desde 2019, Bolsonaro passou a disseminar publicamente narrativas falsas sobre a vulnerabilidade do sistema eleitoral brasileiro, especialmente o sistema de urnas eletrônicas. Essa campanha de desinformação, segundo a PF, não foi meramente política — foi preparatória. O objetivo era criar um terreno fértil para questionar qualquer resultado que não fosse favorável a ele. Aos poucos, o discurso de “fraude eleitoral” se transformou em plano de ação. Em outubro de 2022, após a confirmação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente já tinha em mãos uma minuta com os passos para a ruptura institucional: anular o resultado, declarar estado de sítio, prender autoridades eleitas e assumir o poder por meio da força.

Pressão militar e a carta que mudou tudo

O relatório revela que Bolsonaro não apenas planejou — ele agiu. Em novembro de 2022, ele convocou comandantes das Forças Armadas para reuniões privadas. A mais decisiva ocorreu em 10 de novembro, quando enviou uma carta assinada por ele diretamente aos oficiais superiores do Exército Brasileiro. O texto, segundo a PF, era um ultimato disfarçado: ou os generais aderiam ao plano, ou seriam considerados traidores da pátria. O comandante do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes, recusou-se a participar. Mas a pressão foi intensa. Ao menos sete generais entre os 24 militares indiciados foram apontados como participantes ativos. Um deles, o General Carlos Alberto dos Santos, teria sido o responsável por mapear pontos estratégicos para ocupação no Distrito Federal.

O papel de Braga Netto e o plano de assassinatos

O ex-vice-presidente Walter Souza de Araújo Braga Netto, apesar de afirmar publicamente que “não sabia de nada”, foi indiciado por participação na organização criminosa. Segundo o jornalista Caio Junqueira, da CNN Brasil, documentos encontrados na nuvem de Maurício do Valle Storari — conhecido como Mauri SD — revelam que Braga Netto sediou uma reunião em sua residência em Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde se discutiu a eliminação de figuras-chave da nova administração. O plano incluía nomes como o ministro da Justiça e o presidente do TSE. “Eles tinham certeza total de impunidade”, disse o analista político no CNN Arena. Ainda assim, Braga Netto insiste que nunca aprovou, coordenou ou discutiu o plano. A PF, no entanto, encontrou e-mails, gravações e mensagens criptografadas que contradizem essa versão.

Provas na nuvem e o silêncio de Mauri SD

A chave da investigação foi o computador de Mauri SD, ex-assessor de Bolsonaro e um dos poucos que mantiveram registros detalhados das reuniões. Ele forneceu mais de 1.200 documentos, incluindo a minuta do golpe, listas de apoiadores militares, cronogramas de ação e até roteiros para a tomada de emissoras de TV. Seu advogado, César Bitencourt, afirma que seu cliente “não sabia do plano de assassinatos” e que os documentos foram entregues por “dever cívico”. Mas a PF encontrou mensagens em que Mauri SD se refere a “o plano de Bolsonaro” como algo já decidido. Ele não foi indiciado — mas é a principal testemunha da acusação.

O que vem agora? A PGR e o Supremo

O que vem agora? A PGR e o Supremo

O próximo passo é da Procuradoria-Geral da República. O procurador-geral, Paulo Gonet, tem 30 dias para analisar o relatório e decidir se apresenta denúncia formal ao Supremo Tribunal Federal. A expectativa é de que ele o faça — e rápido. As provas são consideradas sólidas, com múltiplas fontes cruzadas, registros digitais e depoimentos consistentes. Se a denúncia for aceita, Bolsonaro poderá ser julgado por crimes contra a democracia, com pena de até 30 anos de prisão. Isso não é apenas um processo judicial. É um teste para a própria institucionalidade brasileira.

Um precedente sem igual desde 1985

Nunca antes na história da Nova República um ex-presidente foi acusado de liderar um plano concreto para derrubar o governo eleito. O caso supera em gravidade até os atos de 8 de janeiro de 2023, que foram o resultado — não o planejamento. Aqui, o plano foi escrito, revisado, aprovado e distribuído. E isso muda tudo. O que se viu em Brasília no início do ano passado foi uma explosão de raiva. Aqui, vemos um projeto de poder. Um projeto que, se tivesse funcionado, teria mudado a história do Brasil para sempre.

As implicações para 2026

Embora o analista político no CNN Arena tenha dito que é “prematuro” prever efeitos eleitorais, o impacto político é imediato. Bolsonaro, que ainda lidera pesquisas de intenção de voto entre os eleitores de direita, agora enfrenta a possibilidade de ser preso antes das eleições de 2026. Se isso acontecer, o PL pode se dividir entre os que querem manter a linha dura e os que buscam uma nova imagem. Mas mais importante: o caso reforça que a democracia brasileira tem mecanismos para se defender — e que, quando há provas, a justiça pode agir. Mesmo contra quem já foi presidente.

Frequently Asked Questions

Como a Polícia Federal conseguiu provar que Bolsonaro liderou o golpe?

A PF coletou mais de 1.200 documentos da nuvem de Mauri SD, incluindo a minuta do golpe, e-mails, gravações e mensagens criptografadas. Também cruzou depoimentos de militares, registros de reuniões e a carta enviada por Bolsonaro aos comandantes do Exército. Todas as provas se complementam, formando um padrão de ação coordenada e de comando direto.

Bolsonaro ainda pode ser candidato em 2026?

Ainda não há uma resposta definitiva. Se a denúncia for aceita e ele for condenado em primeira instância, poderá ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. Mas, se o processo for lento, ele pode disputar as eleições. A decisão final dependerá do STF e da velocidade da justiça — algo que ainda está em aberto.

Por que Braga Netto foi indiciado se diz que não sabia de nada?

Apesar de suas negativas, a PF encontrou evidências de que ele participou de reuniões estratégicas, incluindo uma em sua casa em Petrópolis onde se discutiu assassinatos. A acusação é de que ele participou da organização criminosa, mesmo que não tenha elaborado o plano. A lei considera omissão e compreensão como participação.

O que acontece se a PGR não apresentar denúncia?

Se a PGR decidir não denunciar, o caso não termina. O STF pode abrir inquérito por iniciativa própria, como fez em 2021 com os atos de 8 de janeiro. Além disso, o Ministério Público Federal ou o Congresso Nacional podem pedir investigações complementares. A pressão política e social é grande demais para o caso ser ignorado.

Como esse caso se compara aos atos de 8 de janeiro de 2023?

Os atos de 8 de janeiro foram um resultado desorganizado da desinformação. Já este caso é o plano por trás disso: escrito, revisado, distribuído e com comandos claros. Enquanto os invasores do Congresso eram manifestantes, aqui temos generais, assessores e um ex-presidente planejando a ruptura institucional. É a diferença entre um tumulto e um golpe.

Quais são os próximos passos legais?

A Procuradoria-Geral da República tem 30 dias para analisar o relatório e decidir por denúncia. Se aceita, o STF abrirá processo criminal. Bolsonaro poderá ser intimado, responderá em liberdade, e o julgamento poderá levar meses ou anos. Mas o fato de o caso já ter sido formalizado é um marco histórico.

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