Ciclone extratropical de novembro de 2025 ameaça Sul, Sudeste e Centro-Oeste com ventos de até 100 km/h

Entre 7 e 9 de novembro de 2025, um ciclone extratropical de intensidade rara para a época do ano vai se formar sobre o Sul do Brasil, ameaçando milhões de pessoas com ventanias de até 100 km/h, chuvas torrenciais e granizo. O fenômeno, descrito como "especialmente perigoso" pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), já gerou alerta vermelho para 725 municípios em quatro estados — Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul — com impactos esperados até no litoral de São Paulo e Rio de Janeiro. A previsão, corrigida após erro inicial que listava 15 estados, é de que o centro do ciclone passe sobre o litoral catarinense na madrugada de sábado, 8 de novembro, e se desloque paralelo à costa até domingo, quando se afastará definitivamente. Mas o dano já será feito.

Um fenômeno que não é raro, mas que está se tornando mais intenso

Ciclones extratropicais no Atlântico Sul não são novidade. Eles acontecem quase todos os anos, especialmente entre abril e outubro. Mas o que chama a atenção este ano é a intensidade e a época: novembro ainda é considerado outono no hemisfério sul, e ciclones dessa magnitude nessa fase do ano são incomuns. "É como se o inverno resolvesse dar uma última espadanada antes de sair de cena", explicou o climatologista Francisco Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele lembra que, em 2020, um ciclone semelhante causou mais de 20 mortes no Rio Grande do Sul e deixou 300 mil pessoas sem energia. "Agora, os modelos indicam que este será ainda mais forte, e com mais energia disponível na atmosfera. Não é só vento. É o conjunto: chuva, granizo, queda de árvores, alagamentos. É um pacote completo de desastre.

Os locais mais vulneráveis — e por quê

O ciclone extratropical de novembro de 2025 não atua como um furacão. Não tem olho, não gira em torno de um centro perfeito. Mas sua força vem da diferença de pressão entre áreas de alta e baixa pressão, que acelera os ventos. Na Costa Norte Catarinense, por exemplo, os ventos devem atingir 90 a 100 km/h entre a tarde e a noite de sábado. Em Santos e São Sebastião, o transporte de balsas será interrompido por segurança — algo que já aconteceu em 2022, mas nunca em novembro. "As balsas não são feitas para navegar em mar agitado com ventos assim. Um único acidente pode ser fatal", disse a diretora de operações da Companhia de Navegação da Baixada Santista. Na Serra do Mar, de Paraná até o sul do Rio de Janeiro, os ventos vão soprar entre 80 e 100 km/h, especialmente em pontos altos. Árvores antigas, já enfraquecidas por secas recentes, podem cair sobre estradas e linhas de energia. Em Belo Horizonte e Curitiba, a preocupação é com a queda de placas e telhados. "Nunca vi tanta gente ignorar avisos de vento. Acha que é só chuva. Não é. É como se um avião passasse a 20 metros da sua janela. Tudo que não estiver preso vai voar", afirmou a meteorologista Marcia Seabra, do Inmet, durante coletiva na sexta-feira.

Preparação e alerta nacional

O Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), sob a liderança do diretor Armin Braun, realizou uma reunião técnica com governos estaduais na sexta-feira para alinhar ações de emergência. "Não estamos pedindo evacuação. Estamos pedindo atenção. Feche janelas. Guarde objetos pesados. Não saia de casa se não for essencial", disse Braun. A Defesa Civil já está distribuindo kits de emergência em 120 municípios de alto risco, e hospitais em Florianópolis, Porto Alegre e Vitória estão em estado de alerta máximo. O Inmet também corrigiu um erro grave de comunicação: inicialmente, informou que 15 estados estariam sob alerta. A correção veio horas depois, com o esclarecimento de que apenas quatro estados têm risco severo. "Foi um equívoco de sistema. Mas o impacto já foi real. Muita gente saiu de casa por medo errado. Isso também é um risco", admitiu um técnico do Inmet, sob anonimato.

O que pode piorar: tornados e microexplosões

Um dos aspectos mais preocupantes, segundo o especialista identificado apenas como Marengo, é a possibilidade de pequenos vórtices se desprendendo do ciclone. "É como se o ciclone, ao se mover sobre o continente, soltasse pequenos redemoinhos. Eles não são tornados grandes, mas podem ser suficientes para destruir casas, levantar carros e derrubar postes em áreas urbanas. Já aconteceu em 2019, em Santa Catarina. Não é mito. É ciência. O meteorologista Wanderson Luiz Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acrescenta: "Ainda há pelo menos outros dois sistemas frontais previstos para novembro. Se um deles se alinhar com esse ciclone, pode gerar um evento ainda mais violento. Não estamos lidando com um fenômeno isolado. Estamos no começo de uma sequência. O que vem depois?

O que vem depois?

Após o deslocamento do ciclone, a região deve enfrentar uma queda brusca de temperatura, com mínimas de 8°C em Curitiba e 10°C em Belo Horizonte na segunda-feira. O solo encharcado pode provocar deslizamentos em áreas de encosta, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro. O governo federal já anunciou que vai liberar R$ 2,3 milhões em recursos emergenciais para os estados mais afetados — mas especialistas dizem que o custo real da recuperação pode ultrapassar R$ 150 milhões.

Como ficam os moradores?

Em Itajaí, no litoral de Santa Catarina, a dona de casa Maria Silva, 67, já está preparada. "Já perdi meu telhado em 2020. Não vou deixar isso acontecer de novo. Comprei cordas, coloquei tijolos em tudo que pode voar. Minha filha me chama de paranóica. Mas eu prefiro ser paranóica a ser vítima."

Frequently Asked Questions

Quais são os riscos reais para pessoas que vivem na Serra do Mar?

Na Serra do Mar, os principais riscos são quedas de árvores, deslizamentos de terra e interrupção de estradas. Ventos acima de 100 km/h podem derrubar postes e redes elétricas, deixando comunidades isoladas. Em locais como o trecho entre Curitiba e São Paulo, estradas como a BR-101 e a SP-160 já têm alertas de bloqueio. A recomendação é evitar deslocamentos entre a tarde de sábado e a madrugada de domingo.

Por que o Inmet corrigiu o número de estados afetados?

Inicialmente, um erro técnico no sistema de alerta incluiu estados com apenas risco moderado, como Mato Grosso e Goiás, como tendo risco severo. A correção, feita 12 horas depois, limitou o alerta vermelho a Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul — onde as rajadas realmente atingem 80 a 100 km/h. A confusão gerou pânico desnecessário em áreas que não correm risco iminente.

Existe risco de tornados nesse ciclone?

Não são tornados como os dos EUA, mas pequenos vórtices, chamados de "tornados de escala local", podem se formar ao longo da frente fria. Eles duram minutos, mas já destruíram casas em Santa Catarina em 2019. O risco é maior em áreas abertas, próximas ao litoral, especialmente entre o Paraná e o Rio de Janeiro. Não há previsão de tornados em grandes cidades, mas em vilas e áreas rurais, o perigo é real.

Por que esse ciclone é mais perigoso do que os de outono?

Porque ocorre em novembro, quando a atmosfera ainda está quente e úmida, mas o ar polar já está avançando. Essa combinação gera uma instabilidade extrema. Além disso, o aquecimento das águas do Atlântico Sul nos últimos anos aumentou a energia disponível para esses sistemas. O ciclone de 2025 é o mais forte registrado em novembro desde 2004, segundo dados do Inmet.

Quais cidades devem ter prioridade na ajuda humanitária?

Itajaí, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Santos e Vitória são as prioridades por terem alta densidade populacional, infraestrutura frágil e histórico de danos em ciclones anteriores. Em Itajaí, por exemplo, 40% das residências são em áreas de risco. O Cenad já enviou equipes de resgate para esses locais antes do pico do evento.

O que os moradores devem fazer imediatamente?

Fechar janelas e portas, guardar móveis e objetos pesados, desligar aparelhos elétricos, carregar celulares e lanternas, e ter água potável e alimentos não perecíveis para 48 horas. Evitar áreas próximas a rios, barrancos e árvores. Se houver ordem de evacuação, siga. Não espere até que o vento comece. O pior momento é quando você pensa que "ainda não é hora".

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