Banda Hi-Fi de luto: condutor Gonçalo Rola morre após acidente na A1

O som parou. Na madrugada de 21 de setembro, quando o camião da Banda Hi-Fi despistou-se na A1, entre Soure e Pombal, ninguém imaginava que aquele seria o último trajeto de Gonçalo Rola. O homem de 46 anos, condutor do veículo e peça-chave da logística da banda, não resistiu aos ferimentos e faleceu em 8 de outubro, após 18 dias internado na unidade de cuidados intensivos do Hospital de Coimbra. A tragédia não foi só pessoal — foi profissional, emocional, cultural. O camião, propriedade da banda, foi totalmente destruído. E com ele, parte da identidade da Banda Hi-Fi.

Um acidente que parou o país dos espetáculos populares

O acidente aconteceu pouco depois das 5h da manhã, quando o camião transportava o equipamento da banda de volta a Viseu, após um concerto no Alentejo. O veículo, um pesado com mais de 10 toneladas, perdeu o controlo numa curva da A1, saltou a barreira e capotou. Dois outros ocupantes, membros da equipa técnica, ficaram gravemente feridos — um com fraturas múltiplas, outro com trauma craniano. Mas foi Gonçalo Rola quem lutou mais tempo. Ele não era apenas o motorista. Era o homem que sabia onde estacionar o camião sem danificar o palco, que carregava os amplificadores com cuidado, que conhecia cada estrada de Portugal como se fosse a rua da sua casa. "Ele era o silêncio que fazia o som funcionar", disse um colega músico em entrevista ao Diário Viseu.

A vida por trás do palco

A Banda Hi-Fi não é uma formação de grandes estádios. É a banda das festas de freguesia, das feiras populares, dos arraiais de verão. Atuou em Viseu, Coimbra, Évora, Santarém — lugares onde a música não é um luxo, mas um ritual. Em julho, depois de um concerto na Feira Popular de Coimbra, publicaram nas redes sociais: "Voltámos com a música, saímos com a saudade. Receberam-nos, mais uma vez, de uma forma incrível." Essas palavras, agora, soam como um adeus antecipado.

O camião era o seu segundo lar. Com 12 metros de comprimento, transportava 20 caixas de som, três baterias, guitarras, teclados, cabos, luzes, até o palco móvel. Sem ele, não há espetáculos. Sem Gonçalo, não há logística. A banda já tinha perdido um membro anteriormente — o teclista, em 2019 — e agora enfrenta o que muitos chamam de "a segunda morte da banda".

Uma onda de solidariedade que não parou

Nos dias após o acidente, as redes sociais encheram-se de mensagens. Artistas como Os Amores, Os Pescadores e até nomes do fado e do rock português publicaram fotos com Gonçalo e escreveram: "Descansa em paz, irmão da estrada." A página Motoristas do Asfalto, com mais de 200 mil seguidores, publicou imagens do local do acidente — o camião esmagado, os destroços espalhados por 50 metros. O post recebeu mais de 87 mil reações. "É a primeira vez que vejo tantas pessoas a chamar um condutor de camião de herói", comentou um utilizador. E não era exagero. Gonçalo Rola era o que os portugueses chamam de "homem de confiança" — o tipo que nunca faltava, que nunca reclamava, que chegava sempre a horas, mesmo depois de uma noite de show.

O que vem a seguir? A banda, o camião, o futuro

A Banda Hi-Fi anunciou, em comunicado, que "não vai desistir", mas reconheceu que "não há como voltar ao que era". O equipamento danificado está avaliado em mais de €45.000. O seguro cobre apenas 60%. A comunidade já iniciou uma campanha de financiamento coletivo — já arrecadou €18.700 em 12 dias. Mas o mais difícil não é o dinheiro. É o vazio.

A banda tem 15 espetáculos marcados até dezembro. Vão ter de adiar todos. Alguns já cancelaram. Outros, como a festa de São João em Viseu, prometeram manter a data — com música acústica, sem amplificação. "Vamos cantar com as nossas vozes. E com o coração de Gonçalo", disse o vocalista em entrevista ao ERZ.

Um retrato da música popular portuguesa

A morte de Gonçalo Rola expõe algo que poucos veem: a fragilidade de um setor que move milhões de pessoas todos os anos, mas que vive na sombra das grandes produtoras. Bandas como a Banda Hi-Fi não têm patrocinadores. Não têm equipamentos novos. Têm camiões com 15 anos, que correm 100.000 km por ano, sem manutenção regular. Em 2022, o INEM registou 17 acidentes envolvendo veículos de bandas musicais em Portugal — 14 deles na A1, A2 ou A25. Nenhum foi investigado profundamente. Nenhum gerou mudança legislativa.

Gonçalo Rola não era um nome conhecido nos noticiários nacionais. Mas era essencial. E agora, ele é o rosto de uma realidade silenciosa: a dos que constroem a música popular portuguesa — e que, muitas vezes, pagam o preço mais alto por ela.

Frequently Asked Questions

Como o acidente afetou os espetáculos da Banda Hi-Fi?

Todos os 15 espetáculos marcados até dezembro foram adiados ou cancelados. A banda perdeu seu camião, que transportava todo o equipamento de som — avaliado em mais de €45 mil — e não tem recursos para substituí-lo imediatamente. A campanha de financiamento coletivo já arrecadou €18.700, mas ainda falta metade do valor necessário. A banda planeia retomar atividades com apresentações acústicas, sem amplificação, até conseguirem um novo veículo.

Quem era Gonçalo Rola e qual era seu papel na banda?

Gonçalo Rola, de 46 anos, era o condutor do camião da Banda Hi-Fi e responsável pela logística de transporte de equipamentos entre espetáculos. Não era músico, mas era considerado parte essencial da equipe. Conhecia todas as estradas de Portugal, organizava o carregamento do camião e garantia que tudo chegasse em perfeito estado. Muitos o chamavam de "o silêncio que fazia o som funcionar". Ele morreu após 18 dias em cuidados intensivos no Hospital de Coimbra.

Por que o acidente na A1 foi tão grave?

O camião da banda pesava mais de 10 toneladas e transportava equipamentos pesados e mal acondicionados, segundo relatos de outros motoristas. O despiste ocorreu numa curva com pouca sinalização, entre Soure e Pombal — um trecho conhecido por acidentes com veículos pesados. O veículo capotou e foi totalmente destruído. O acidente ocorreu na madrugada de 21 de setembro, quando a visibilidade era baixa e os motoristas estavam cansados após shows noturnos.

A banda Hi-Fi já teve outros acidentes ou perdas?

Sim. Em 2019, a banda perdeu seu teclista, que faleceu de forma repentina. Agora, com a morte de Gonçalo Rola, enfrentam o que chamam de "a segunda morte da banda". Além disso, em 2021, um dos amplificadores foi roubado durante uma parada em Coimbra — um prejuízo de €3.500 que levou meses para recuperar. A falta de apoio institucional e seguros adequados é recorrente entre bandas populares em Portugal.

O que está sendo feito para evitar acidentes semelhantes no futuro?

Nada ainda. Embora o acidente tenha gerado grande comoção, não há propostas legislativas em curso. A Associação de Músicos Independentes de Portugal pediu regras mais rígidas para transporte de equipamentos e manutenção obrigatória de veículos, mas o Ministério da Administração Interna não respondeu. O caso de Gonçalo Rola pode virar um marco — mas, por enquanto, a mudança depende da pressão da sociedade civil e das campanhas de solidariedade.

Como posso ajudar a Banda Hi-Fi?

A campanha de financiamento coletivo está ativa na plataforma Apadrinhe um Som, com o objetivo de arrecadar €30 mil para comprar um novo camião adaptado. Também é possível ajudar comprando os novos álbuns da banda, que serão lançados em formato digital e físico com parte dos lucros destinados ao fundo de recuperação. Muitos fãs estão organizando concertos de homenagem em cidades como Viseu e Coimbra — todos os detalhes estão na página oficial da banda no Facebook.

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