
Por Augusto
CHEGA lidera intenções de voto em Santarém
Um distrito que costuma espelhar disputas nacionais acaba de ganhar um novo enredo: a nova sondagem Aximage para o Folha Nacional coloca o CHEGA em primeiro lugar nas intenções de voto em Santarém, com 28,0%. A Aliança Democrática (AD) surge logo atrás, com 26,4%, e o PS aparece colado, com 26,3%. Diferenças mínimas, cenário apertado e muito combustível para a campanha que se aproxima.
Os restantes partidos surgem a larga distância. Ainda assim, há competição no pelotão secundário: CDU com 4,4%, Livre com 4,3% e Bloco de Esquerda com 4,2%. A Iniciativa Liberal regista 3,3% e o PAN 1,7%. Outros e não resposta (OBN) somam 1,4%.
- CHEGA: 28,0%
- AD: 26,4%
- PS: 26,3%
- CDU: 4,4%
- Livre: 4,3%
- Bloco de Esquerda: 4,2%
- Iniciativa Liberal: 3,3%
- PAN: 1,7%
- Outros/OBN: 1,4%
Importa um aviso metodológico que muda o tom desta fotografia: com 305 entrevistas, a margem máxima de erro teórica ronda 5,6 pontos percentuais (a 95% de confiança). Traduzindo: a liderança numérica do CHEGA não equivale a liderança estatística clara. Na prática, CHEGA, AD e PS estão num empate técnico. Pequenas oscilações de mobilização ou de participação podem virar o topo da tabela.
Mesmo assim, há sinais políticos que valem atenção. O primeiro é a consolidação de uma disputa a três no distrito, tradicionalmente repartido entre PS e PSD (agora no quadro da AD). O segundo é a força do CHEGA em territórios com mistura de meio urbano e rural, forte peso agrícola e ligações pendulares à Área Metropolitana de Lisboa — um perfil que encaixa em Santarém. Temas como custo de vida, segurança, acesso a serviços públicos e pressão na habitação têm sido combustível para o crescimento do partido de direita radical.
Outro ponto: a esquerda aparece mais fragmentada. Somando PS (26,3%), BE (4,2%), Livre (4,3%), CDU (4,4%) e PAN (1,7%), o campo à esquerda passa dos 40%. Do outro lado, AD (26,4%), CHEGA (28,0%) e IL (3,3%) acumulam perto de 58%. Estes blocos não elegem diretamente, claro — a distribuição de mandatos faz-se pelo método d'Hondt, distrito a distrito —, mas a fotografia ajuda a perceber humores e equilíbrio de forças.
Por que Santarém importa? Porque é um distrito médio, com realidades diversas: Ribatejo agrícola, cidades com serviços, zonas industriais e uma classe média que sente a inflação no bolso. E porque, apesar de eleger menos deputados do que Lisboa ou Porto, o que acontece aqui é visto como sinal de tendência. Uma liderança, mesmo que técnica, alimenta narrativa política e atrai recursos de campanha.
No miolo da polarização, a AD tem um desafio claro: recuperar eleitores no centro e fixar voto útil anti-PS sem perder margem para o CHEGA. Para o PS, a missão passa por galvanizar a base, falar a quem hesita entre esquerda e centro e reduzir perdas para BE e Livre. Para o CHEGA, a prioridade é manter a chama acesa até às urnas — sondagem não elege deputado, mas ajuda a puxar a carruagem no terreno.

Como foi feita a sondagem e o que observar
O estudo foi realizado pela Aximage – Comunicação e Imagem Lda. para o Folha Nacional, focado nas intenções de voto para legislativas antecipadas e temas políticos no distrito de Santarém. Universo: residentes com 18 anos ou mais. Amostragem por quotas cruzando género (2), idade (3) e município (21). No total, 305 entrevistas válidas: 150 homens e 155 mulheres; 101 entre 18-34 anos, 103 entre 35-49 e 101 com 50 ou mais. O modo de recolha não foi especificado no resumo divulgado.
Há uma diferença entre amostragem por quotas e amostragem probabilística. Em quotas, o objetivo é refletir a composição do universo, mas a margem de erro clássica é apenas uma referência teórica — não é uma medida exata de incerteza. Ainda assim, para n=305, a margem máxima de erro teórica aproxima-se de 5,6 pontos, o suficiente para dizer que variações de 1 ou 2 pontos no topo não são conclusivas. E isso coloca os três primeiros em empate técnico.
O relatório divulgado não traz detalhes sobre datas de campo, taxa de resposta e eventuais ponderações pós-recolha — informações que ajudam a ler a robustez do resultado. A ausência desses dados não invalida a sondagem, mas pede prudência: o ideal é acompanhar outras medições no mesmo distrito e olhar para tendências, não apenas uma fotografia isolada.
Além da fotografia de momento, vale entender o pano de fundo temático no distrito. Custo de vida e salários, resposta dos serviços de saúde, transportes e portagens, água e seca no Tejo, e fileiras agrícolas são assuntos que têm peso local. Partidos que forem concretos nestas agendas tendem a ganhar tração final. Em eleições disputadas, a diferença pode vir de temas muito práticos: tempo de espera no centro de saúde, preço do arrendamento, qualidade das estradas e da ligação ferroviária.
E como tudo isto pode mexer nos mandatos? Depende de duas coisas que a sondagem não capta sozinha: distribuição real do voto pelos concelhos e participação efetiva no dia. No método d'Hondt, décimas contam, sobretudo nos últimos lugares. Partidos médios e pequenos jogam cada assento no detalhe — e coligações informais de voto útil, mesmo que não declaradas, fazem a diferença no fim.
Há também lacunas que podem ser decisivas. A sondagem não mostra como os números variam por faixa etária ou por concelho — dois cortes que costumam alterar bastante a leitura. Por exemplo, partidos como BE e Livre por vezes concentram força em cidades específicas; o mesmo pode acontecer com CDU em bastiões históricos. Sem esse mapa fino, a melhor interpretação é: corrida aberta, com vantagem psicológica para quem aparece à frente e contas apertadas para todos os outros.
Em resumo do que está em cima da mesa: CHEGA aparece a liderar, AD e PS encostam, a esquerda está espalhada por várias siglas e a direita soma mais quando considerada em bloco. O distrito continua a ser um barómetro útil para perceber onde a política nacional pode desembocar. Agora, a pergunta que vale mandato é simples: quem transforma esta fotografia em voto contado?
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